dezembro 04, 2010

Bakemonogatari


Antes eu imaginava que os mangás japoneses estavam para os romances europeus como o mesmo tipo de produto para línguas diferentes. Pensava que, por ser uma língua tão ‘desenhada’ seria difícil escrever grandes narrativas com ela, sendo mais fácil os desenhos. Pois que me enganei. Os japoneses produzem romances também, o mangá é uma outra coisa.

Basicamente, por se trabalhar com palavras e imagens, as histórias ganham quando a imagem é mais importante na construção do sentido que a própria palavra. Sendo o contrário, melhor então seria fazer um romance.

O anime Bakemonogatari revoluciona por trazer uma nova proposta de trabalhar com as duas matérias primas do anime/mangá: há uma maior valorização da palavra, mas a palavra enquanto ícone, gravura, dentro da narrativa, com vários cortes mostrando textos, ou apenas palavras, jogando com idéias que se interpelam com as imagens do anime, muitas vezes, imagens-palavras: placas, semáforos, outdoors, etc.

Por ser especialmente dialogal, o anime aproveita para dar novas visões, novos ângulos e perspectivas de se ‘ler’ as imagens, com câmeras tortas, close ups em bocas, pés, cabelos e, especialmente, olhos. Os olhos, o momento do olhar, olhos piscando, captando, lendo metonimicamente como lêem os olhos do espectador da cena: na primeira cena, o vento que ergue uma saia por frações de segundo, mas que sobre o olhar de um adolescente ganha momentos quase infinitos; e proporções gigantescas a trazer a tona um punhado de lembranças não relatadas; às vezes, parece, que o autor não tem a mínima intenção de explicar nada.

Claro, um anime para rapazes, com toques de ecchi (gênero erótico em japonês), harém e ação – pouca ação, mas com animação de melhor qualidade. O romance – romance? Tem certeza que pode chamar isso de relacionamento romântico? – entre Senjogahara Hitagi e Araragi Koyomi. Araragi é um jovem ex-vampiro que ajuda algumas moças com problemas sobrenaturais, semelhantes ao seu (ou não) e que ajuda apenas por ajudar. Quando o elogiam como alguém único, retruca, quase friamente: “Mas é que sou o único eu”, quase um fado, inevitável, incontestável.

Brilhantíssimo, no uso da forma anime e da língua japonesa.

Um comentário:

  1. Estou querendo ver alguns episódeos deste anime num site chamado animalog, com essas referencias tenho mais um motivo para ver!!

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