“que cê disse, menino?
o que você ouviu: um susto que adquiriu compreensão, isso era Hillé.”
(HILST, p. 89)

As pernas que se abriam para o sorver de Ehud, para o sexo de Ehud, eram as próprias páginas do livro aberto – dilata-se as pupilas e os poros, oros, orifícios; as pernas que se abriam tinham uma mente já tão escancarada que de tudo duvidava e enquanto tentava entender o próprio compreender, deixava-se foder por Ehud, ele, incapaz de responder-lhe, pois quem poderia,se Hillé ainda procurava a pergunta. Mas não passava mais de que uma (das várias) lembranças: Ehud já morrera, há alguns anos, por volta dos 60/70 anos, e Hillé era apenas uma velha que vivia, já desde antes da morte do marido, ao pé da escada e lá, procurava, sem saber o que, mas procurava.

A natureza forte e questionadora de Hillé, provoca em nós, seus leitores, o próprio desejo de se perguntar, mas como não sofremos como ela (ou talvez, muito pelo contrário, sofremos, diferentemente dela) as indagações da Senhora D soam como ferinas ironias, desmistificadoras, anti-sacras: “Ai, Senhor, tu tens igual a nós o fétido buraco?” (p. 45). E se, então, deus possuísse cu? lá atrás dele, comprimido escondido, podre? Orgulharíamo-nos, ainda, de nossa posição na política, na sociedade, no “pálido ponto azul”, de sermos o espirro sujo “desse” deus?
Excelente leitura e instantânea ,até, para aqueles que como Ehud, sentem sede de Hillé, de seus grandes e ainda firmes seios ou de suas dúvidas – que no frigir dos ovos, dependerá na verdade da sede de cada um.
mt boa a reflexão;)
ResponderExcluirha pouco postei um poema de Hilda no meu blogue com o intuito de dar a conhecer aos portugueses.
beijos
S.
Hey, navegando bestamente na net, encontro, por acaso, teu blog. Que coisa boa de ler. Pesquiso Hilda Hilst, que é minha escritora favorita ever. E A Obscena Senhora D figura na lista de livros que me compõem e que, de algum modo, mudaram minha vida.
ResponderExcluirEnfim, gostei. =)
Obrigado, que bom que gostaram.
ResponderExcluirEncontrei Hilda em um susto, em uma sala de leitura e li o livro em uma tarde, praticamente.
Amanda, que bom que você tem pesquisas sobre ela. É justamente esse tipo de atitude e de trabalhos que precisamos para a academia começar a abrir os olhos para esses "novos" escritores pós década de 70/80, como Hilda, Caio, Carola...