Kings of Convenience é tudo que o próprio nome sugere. Sabe aquela expressão “Feios, bobos e chatos” – me sinto tão ‘parte-de-alguma-coisa’ quando a leio – pois é. Na verdade, KOC (para os íntimos) é um garrafal, mas sem preenchimento ‘POIS É’. Simples, mas que impressiona por se propor tão incomumente normal.
Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe (nem me perguntem como falar esse ‘o’ cortado. Pra mim isso é “conjunto vazio” em matemática) são a prova de que a Irlanda tem muito mais a oferecer que apenas James Joyce e U2 – e Samuel Beckett. Seu último disco segue mais ou menos a linha dos anteriores: músicas acústicas que nos movem, sem nos pressionar ou forçar, com mãos macias, à poltrona mais próxima, à cama mais fresca, ao canto mais frio e cinza da casa.
Não que sejam (apenas) músicas tristes, mas com seu tom tão suspirado, nos levam suavemente a reflexão e as músicas em si, são pequenas epifanias, pequenas revelações cotidianas. Os títulos de seus álbuns são sempre marcados por um traço quase óbvio e de repente estranho: Calmaria é o novo Barulho (2001), Confusão em uma rua vazia (2004) e, o mais recente, Declaração de Dependência (2009) – traduções minhas.
O último – Declaration of Dependence – é um misto de bossa-folk. Algumas poucas melodias nos convidam a trancar a cara e escutar, outras já parecem feitas e gravadas em take único, depois de uma xícara de capuccino, como quem diz “ei, aquela lá, lembra? Começa assim...” e assim são Boat Behind, Rule My World e Peacetime Resistance. Assim também é Mrs Cold (segue o vídeo abaixo): “Quando eu posso ter? Quando eu posso ver? Você sabe que fica vulnerável perto de mim” (tradução minha).
A docilidade das vozes de ambos muitas vezes contrasta com o tom ferino de algumas composições, mas, é claro, isso também já faz parte do estilo do ‘duo acústico’ irlandês, como que o conteúdo dos CDs tentasse rimar com o título dos álbuns. E rima.
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